Acolher através da língua e do conhecimento é uma forma de amor e de solidariedade

No dia 24 de fevereiro (re)escrevia-se uma página na história da humanidade, que todos esperávamos nunca mais voltar a ler, pautada pela violação da democracia, dos direitos humanos e da paz.
A guerra na Ucrânia, tal como todas as guerras, é geradora, entre outros, de sofrimento psicológico, de violência, de insegurança, de pobreza e de migração forçada.
Frequentemente alvo de estigma, preconceito, discriminação e exposta a um maior risco de pobreza, violência e problemas de saúde psicológica, a população migrante, refugiada e requerente de asilo enfrenta situações de vulnerabilidade às quais não podemos ficar indiferentes, mobilizando esforços individuais e coletivos que se materializem numa resposta às suas necessidades – nomeadamente, físicas, psicológicas, sociais, vocacionais e educacionais.
Infelizmente, os factos corroboram a sabedoria popular de que “um mal nunca vem só”, verificando-se que em situação de crise económico-financeira as disparidades tendem a agravar-se. No que ao mercado de trabalho diz respeito, a taxa de desemprego tende a ser elevada entre a população migrante. Quando em situação de emprego, tendem a ser absorvidos para grupos profissionais de base, pouco ou nada qualificados, mais mal pagos, com maior risco de sinistralidade e de precariedade.
Para uma integração plena da população migrante, refugiada e requerente de asilo no mercado de trabalho deverá garantir-se o acesso a informação fidedigna, de modo que se evitem situações de irregularidade, abuso, discriminação, entre outras. Neste âmbito, os Centros Qualifica desempenham um papel de enorme relevância, ao disporem de profissionais especializados que apoiam a (re)construção de projetos vocacionais. Para além disso, é fundamental capacitar através da educação, da formação profissional e da inclusão digital.
O sucesso da integração está também dependente de um fator que tem sido documentado como preponderante: o domínio da língua do país de acolhimento. Em Portugal, os Cursos de Português Língua de Acolhimento, promovidos por estabelecimentos de ensino da rede pública, pela rede de centros de gestão direta e participada do Instituto do Emprego e da Formação Profissional, I. P., e pela rede de Centros Qualifica, constituem-se como vitais para uma integração plena, pelo seu efeito mitigador dos fatores de vulnerabilidade à integração.
Em suma, a intervenção para fazer face ao dramatismo da situação atual poderá passar por um conjunto de respostas sociais, provendo-se, em primeira instância, abrigo, segurança e o restabelecimento das condições de vida e de dignidade; e pela criação de condições de integração e adaptação à nova realidade, através da promoção de recursos pessoais, sociais e profissionais, conducentes a um sentido de propósito e de bem-estar psicológico.
O contacto e a aprendizagem da língua de acolhimento são então facilitadores da adaptação e do estabelecimento de novos laços relacionais, criando condições para uma plena integração destes nossos concidadãos.
Ana Virgínia Pereira, Centro Qualifica | CESAE Digital