A nova realidade do mercado de trabalho, a opinião de Paulo Nunes de Almeida
Com uma incessante evolução tecnológica associada a desenvolvimentos espetaculares, naquilo que habitualmente se designa como a quarta revolução industrial ou Indústria 4.0, começam a surgir cenários de destruição de emprego devido à desmaterialização crescente de processos clássicos de produção e comercialização de produtos, havendo mesmo quem antecipe o desaparecimento de inúmeras profissões, com o aparecimento de outras que hoje ainda não sabemos nomear.
Há pois novos desafios que chegarão rapidamente ao mercado de trabalho e todos eles englobam sempre uma grande transformação digital, resultante da presença das novas tecnologias de informação e comunicação em todos os domínios da nossa vida, com impactos incontornáveis nos modos de organização do trabalho, na produção de qualificações e na emergência de novas profissões.
Estudos de reconhecidas organizações internacionais, como o Fórum Económico Mundial, a OCDE, e a própria União Europeia, têm vindo a alertar para uma grande transformação na procura presente e futura de talentos e qualificações, com novas áreas a emergirem nas áreas técnicas, de engenharia, de saúde e apoios sociais e sobretudo dos chamados profissionais TIC. (Skills Forecast 2016, CEDEFOP).
Atento a estas tendências foi lançado recentemente pelo Governo o programa “Estratégia para a Indústria 4.0”. O programa está orientado para a implementação de tecnologias digitais nas empresas, através de uma diversidade de medidas indutoras do enriquecimento por via digital de empresas e dos seus negócios.
Em paralelo, foi lançado o Portugal INCODE 2030 – Iniciativa para as Competências Digitais, especialmente vocacionado para a promoção de literacia digital em cidadãos e empresas, através de formação e qualificação e da generalização do uso de ferramentas digitais pela população, e t da mobilização de investimento tecnológico nas áreas digitais.
É neste contexto que o CESAE criou já em 2016 o Programa Emprego Qualificado 2020, que me parece uma excelente ilustração da temática, em boa hora escolhida pelos Cadernos de Economia nesta sua edição que assinala o 30º aniversário: a transformação das profissões e do mercado de trabalho suscitada pelas novas tecnologias.
O CESAE, entidade associativa e académica criada pela AEP – Associação Empresarial de Portugal e outras associações empresariais, em conjunto com as Universidades do Porto e de Aveiro e com o Instituto Politécnico do Porto, nasce em 1985 como Centro de Formação em Informática. Graças ao pioneirismo e visão de empresários e dirigentes políticos foi criado um Centro que é hoje centro de referência na área da formação e desenvolvimento de competências digitais, integrando a CPED – Coligação Portuguesa para a Empregabilidade Digital.
O Emprego Qualificado 2020 é um programa de dinamização do emprego digital e de reorientação de qualificações, através da realização de ações de formação nas áreas emergentes das Tecnologias de Informação, designadamente: Administração de Sistemas, Design Gráfico e Multimédia, Marketing Digital, Sistemas de Gestão e Aplicações Informáticas de Gestão e Web Developper & Mobile.
Pretende-se através da capacitação técnica e comportamental de ativos desempregados, com várias formações de origem e através de um processo formativo de grande intensidade temática e digital e alinhado com a procura empresarial previamente assegurada, habilitar os formandos para integrarem um ecossistema empresarial que gera maior e melhor produtividade e competitividade das organizações participantes.
Atendendo à escassez de formações superiores nas áreas CTEM (Ciência, Tecnologias, Engenharia e Matemática), que ainda existe em Portugal a reconversão vocacional e capacitação que estas formações propiciam, constituem um inegável contributo para uma empregabilidade melhorada de desempregados e sobretudo uma capacitação profissional de áreas de grande procura empresarial.
Note-se que estas competências profissionais digitais adquiridas no Emprego Qualificado 2020 se traduzem numa requalificação integral do indivíduo e das diferentes profissões que pode vir a ocupar, na medida em que acrescenta valor a profissões renovadas hoje cada vez mais saturadas de conhecimentos digitais.
Esta transformação de conhecimentos em competências utilizáveis e criadoras de valor nas empresas é potenciada pela integração com as restantes dinâmicas de serviço do CESAE e da AEP como a formação/ação, a consultoria e os serviços técnicos ou a gestão de projetos e ID&T, favorecendo assim a inovação, a internacionalização e a qualificação global das nossas empresas. Trata-se pois de um dispositivo de formação qualificante que alinha com as novas tendências de profissões de futuro, envolvendo ativos que através de reconversão do seu perfil de aptidões, melhoram a sua empregabilidade e a sua capacidade de empreendimento para poderem vir a trabalhar por conta de outrem, mas também por conta própria.
Eis pois o que me parece ser um bom exemplo de uma aliança público-privada virtuosa (o programa resulta de um acordo de cooperação com o IEFP) com um propósito de capacitação digital claramente inscrito nos objetivos da iniciativa Nacional para as Competências Digitais e.2030, lançado recentemente no nosso País. Os resultados obtidos na edição anterior mostram claramente que este é um dos caminhos a trilhar pelas associações empresariais: o de preparar o futuro, dotando os ativos e as empresas de novas qualificações, através de dispositivos flexíveis e colaborativos, alinhados com os desafios que o mundo nos coloca.
Com as profissões que conhecemos hoje, com as novas que certamente aparecerão e para fazer frente à complexidade natural das tendências do futuro, o fator é e será sempre – a Aprendizagem ao Longo da Vida.
Paulo Nunes de Almeida
Presidente da AEP / Presidente do CESAE
(artigo publicado originalmente nos Cadernos de Economia, maio 2017)